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Interior de Hulha Negra se destaca pela diversidade produtiva e pela força dos pequenos agricultores

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Apicultores mostram como tradição e inovação impulsionam o desenvolvimento rural

 

Vista aérea do Assentamento Conquista da Fronteira

O interior de Hulha Negra, no Rio Grande do Sul, é um retrato da força da agricultura familiar e da diversidade produtiva que movimenta a economia do município. Entre lavouras, criação de animais, produção de leite, hortaliças e frutas, os pequenos produtores desempenham um papel fundamental para o abastecimento local e regional. Em meio a esse cenário, a apicultura surge como um brilho especial, agregando valor à produção e fortalecendo ainda mais o setor rural.

No assentamento Conquista da Fronteira, a família Pientka mantém viva a tradição da produção de mel, atividade que atravessa gerações. Além das colmeias, a propriedade cultiva hortaliças, sementes, frutas e mantém a criação de animais para consumo próprio. “Aqui no interior, a gente vê de tudo um pouco: tem quem planta, tem quem cria gado, quem faz queijo, quem colhe frutas e tem o nosso mel. Tudo isso movimenta a economia do município”, afirma Armando Pientka, 60 anos, produtor familiar, que desde criança trabalha com abelhas.

Natural de Aratiba, Armando chegou a Hulha Negra no final da década de 1980, quando os primeiros assentamentos começaram a transformar a paisagem rural da região. Hoje, são mais de 30 assentamentos, responsáveis por impulsionar a produção agrícola e garantir o desenvolvimento do município.

 

Acompanhamos a rotina dos apicultores

Com o sol ainda baixo no horizonte, Armando Pientka, já está de pé organizando os equipamentos para mais um dia de colheita de mel. O Nosso Jornal acompanhou de perto essa rotina, que exige técnica, paciência e um profundo respeito pelas abelhas. Neste dia, a coleta do mel ficou com conta de Armando, do genro Filipe Branco Caovila, 27 anos, e do vizinho Valdir Vanzo, 57.

O trabalho começa com a substituição dos caixilhos das colmeias, posicionadas estrategicamente próximas a lavouras em floração. O acesso às caixas nem sempre é fácil, exigindo força e destreza dos apicultores. Para evitar ataques, a equipe utiliza fumaça para manter as abelhas calmas. O processo mascara os feromônios de alarme que elas liberam quando se sentem ameaçadas, permitindo que a inspeção das colmeias seja feita com segurança.

Acostumado com a atividade, Filipe já não usa luvas ao manusear os caixilhos. “As abelhas só ferroam quando se sentem ameaçadas. Convivo bem com elas, aprendi a respeitar seu espaço”, explica. Mas o calor dentro das roupas de proteção é um desafio à parte. Em dias mais quentes, o abafamento é intenso e já houve casos de apicultores desmaiando devido à alta temperatura.

Cada melgueira, ou sobrecaixa, contém oito caixilhos – estruturas de madeira de aproximadamente 50 cm x 15 cm onde os favos são construídos. A extração exige cuidado: os apicultores retiram a sobrecaixa cheia de mel e a substituem por uma nova, para que as abelhas recomeçem o ciclo de produção.

 

O processo de extração: da colmeia ao tanque de decantação

Após a coleta, a equipe retorna à propriedade com cerca de 30 melgueira contendo os caixilhos repletos de mel. O trabalho agora se desloca para um local de processamento, que eles chamam de Casa do Mel, onde cada membro assume uma função.

Bruna Caroline Pereira Pientka, de 15 anos, filha de Armando, inicia a limpeza dos caixilhos, enquanto Armando, sua filha Katiane Pientka, 25, seu genro Filipe e Valdir realizam a desoperculação – processo de remoção da cera que sela os favos. Esse procedimento é feito com um garfo especial, permitindo a extração do mel sem comprometer a estrutura dos favos. Durante todo o processo, o clima é de descontração e parceria, tornando o trabalho mais leve e prazeroso. Neste dia, Filipe precisou se ausentar para continuar a coleta de silagem em sua propriedade rural.

Para que a extração seja eficiente, ao menos 80% dos caixilhos precisam estar operculados, ou seja, com os favos completamente selados pela cera. Essa cera removida não é descartada: após ser higienizada, ela pode ser reutilizada na produção de novos favos.

 

Os caixilhos desoperculados são então colocados em uma centrífuga, onde o mel é extraído pela força da rotação. O equipamento comporta até 20 caixilhos por vez, e o tempo de centrifugação varia de acordo com a viscosidade do mel e a velocidade do processo.

Após sair da centrífuga, o mel passa por uma filtragem e é armazenado em um tanque decantador. Lá, ele permanece por cerca de dois dias para que os últimos resíduos de cera sejam completamente separados. Só então ele está pronto para ser embalado e comercializado.

Armando destaca a importância do ponto de maturação do mel. “Se a umidade estiver acima de 20%, o mel pode fermentar e perder qualidade. É essencial garantir um produto bem maturado”, explica. Para esta safra, a expectativa é colher cerca de 50 quilos de mel por caixa, mas isso dependendo das condições climáticas.

 

Como identificar se o mel é puro?

Com a grande oferta de mel no mercado, uma das preocupações dos consumidores é saber se o produto é realmente puro. Armando compartilha algumas dicas para evitar fraudes:

  • Cristalização: O mel puro tende a cristalizar com o tempo. Se um mel permanece líquido por muito tempo, pode ser um indício de adulteração.
  • Teste do copo d’água: Coloque uma colher de mel em um copo com água. O mel puro se deposita no fundo, enquanto o mel adulterado se dissolve rapidamente.
  • Fio contínuo: Ao despejar o mel de uma colher, ele deve cair formando um fio contínuo, sem se partir.

 

Desafios e oportunidades para a apicultura

Mesmo com sua importância, a apicultura ainda enfrenta desafios no interior de Hulha Negra. Filipe, que mora no assentamento Palmeiras com a esposa Katiane, explica que a principal fonte de renda da família ainda é o leite, devido à instabilidade do preço do mel.

A baixa valorização do produto no mercado interno e a falta de incentivos para os pequenos apicultores são obstáculos que comprometem o crescimento da atividade. “O Rio Grande do Sul produz mais de 9 mil toneladas de mel por ano, e a maior parte vai para exportação. Mesmo assim, o preço pago ao produtor varia muito. Já vendemos mel a R$ 17 o quilo, mas nesta safra a previsão não passa de R$ 6,00. É difícil se manter apenas com o mel”, lamenta Filipe.

O consumo interno também é baixo. De acordo com a Embrapa, cada brasileiro consome, em média, apenas 60 gramas de mel por ano, enquanto na Argentina esse número sobe para 240 g e, nos Estados Unidos e Europa, ultrapassa 1 kg por pessoa.

 

O equilíbrio entre apicultura e agricultura

A integração da apicultura com outras atividades agrícolas pode ser uma alternativa para fortalecer os produtores rurais. O cultivo de diversas culturas ao lado da criação de abelhas favorece a polinização e aumenta a produtividade das lavouras.

Valdir Vanzo, que planta soja, percebeu esse impacto positivo na prática. “Com a presença das abelhas, minha produção aumentou. Elas ajudam na polinização, e o resultado é um rendimento maior da lavoura”, explica.

Por outro lado, o uso inadequado de pesticidas preocupa os apicultores. Armando alerta para a morte de enxames em algumas caixas e acredita que a contaminação por defensivos agrícolas seja a principal causa. “Os agricultores e os apicultores precisam caminhar juntos. O equilíbrio entre essas atividades é essencial para que ambos prosperem”, enfatiza.

 

Inovação que agrega valor ao mel do interior

A família Pientka vai além da produção tradicional e investe em uma técnica inovadora: a colheita do mel diretamente em potes plásticos, conhecida como “favo intocado”. Nesse método, as abelhas constroem os favos dentro do recipiente, sem qualquer manipulação humana, resultando em um produto mais puro e diferenciado.

Armando já havia utilizado essa técnica anos atrás e, recentemente, decidiu retomá-la em pequena escala. O sucesso foi tanto que ele já pensa em expandir a produção diretamente no pote, oferecendo ainda mais dessa experiência única aos consumidores.

O processo começa com a inserção de uma lâmina de cera alveolada dentro do pote, que é colocado de cabeça para baixo na melgueira. As abelhas então produzem os favos diretamente no recipiente. Após alguns dias, são cuidadosamente retiradas, e o pote é preenchido com mel líquido. Por fim, o produto recebe o rótulo e está pronto para a comercialização.

Além de ser mais sustentável, o mel do favo intocado preserva melhor suas propriedades naturais. Rico em antioxidantes, ele contribui para a saúde cardiovascular, hepática e digestiva.

Tivemos a oportunidade de provar o mel diretamente do favo, e o sabor é simplesmente indescritível! A textura, o frescor e a intensidade do aroma tornam essa experiência única.

Para Armando, essa técnica valoriza ainda mais a produção local. “Cada pote é único, como uma digital. Não há dois iguais. Isso dá ao consumidor uma experiência diferenciada e fortalece o valor do nosso mel”, afirma.

 

A força dos pequenos produtores

A apicultura é apenas uma das atividades que sustentam centenas de famílias no interior de Hulha Negra. A diversidade de culturas e a produção familiar abastecem mercados locais e feiras, movimentando a economia.

Diante dos desafios, a resiliência e a inovação dos produtores mostram que o interior de Hulha Negra não é apenas um espaço de produção, mas um exemplo de desenvolvimento sustentável. Iniciativas como as das famílias Pientka, Caovila e Vanzo reforçam a importância do campo para a economia e a preservação das tradições rurais.

 

Onde comprar mel puro e de qualidade?

Quem deseja adquirir mel puro, direto do apicultor, pode encomendar pelos contatos:

📞 Filipe Branco Caovila – (53) 99707-8304

📞 Armando Pientka – (53) 99969-3605

📞 Jacson – (53) 99909-3339

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